sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Poema: Pintura


Pintura (Eu nunca tive nada)







Já tive mil caminhos
dividi de mãos dadas,
partilhei do fôlego, rotina,
confiei minha alma
corpo, alegria
sensações, singulares
distintos momentos
quadros realistas
abstratos, até vividos
cinzentos, multi coloridos
foram únicos
no instante 
num segundo
eternos
jurei amar eternamente,
o vermelho sangue 
se verteu a minha frente.

Na tela viva a tinta escorreu.
Borrou. 
Desertei.
Lavei.
Apaguei, venci
Me redesenhei. 
Recomecei.

Desacreditei,
porém fui enfeitiçada
amei de novo,
cada nova descoberta
única, peculiar
um mundo novo multicor
pro meu capricho refazer 
pintura a óleo vibrante
recomeçar a nuance
na minha tela viva sonhar.

Tudo mudou
o dia escureceu; a noite chegou,
do zero,
o instante me abandonou.

Sozinha
minha tela borrada jazia
entrecortada solidão
alguém batia na porta; 
eu abriria?
Ninguém poderia mudar a minha vida.

Foi muito amor
foi amargo exílio
foi pintura intimista
nudez prevista
deleite intenso
foi doce sentimento
pele, fogo, 
devaneio ao vento
foi verdadeiro 
e não passou de ilusão
o tudo que eu tinha 
se desintegrou
um mundo infinito 
em casos passageiros
no nada se tornou.
A tela em branco ficou.






Helena Dalillah




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