sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

RIP Zé do Caixão - José Mojica Marins


O Mundo de Helena está em luto

Um grande ícone se vai.


Se você se diz fã de horror e nunca viu o horror de Zé do Caixão você não é um fã de horror.


José Mojica Marins (Zé do Caixão) 






José Mojica foi um cineasta, ator, roteirista de cinema e televisão brasileiro mais conhecido como Zé do Caixão, seu personagem mais famoso. 
É considerado o "pai" do terror nacional, tendo sua obra grande importância para o gênero, influenciando várias gerações.

Nascimento: 13 de março de 1936, Vila Mariana, São Paulo
Falecimento: 19 de fevereiro de 2020, São Paulo, São Paulo.






Embora Mojica tenha sido conhecido principalmente como diretor de cinema de terror, teve trabalhos anteriores cujos gêneros variavam entre faroestes, dramas, aventura, dentre outros, incluindo filmes do gênero pornochanchada, no Brasil, durante aquela época. Mojica desenvolveu um estilo próprio de filmar que, inicialmente desprezado pela crítica nacional, passou a ser reverenciado após seus filmes começarem a ser considerados cult no circuito internacional.
Mojica é considerado como um dos inspiradores do movimento marginal no Brasil.

Em todos os seus filmes, com exceção de Encarnação do Demônio, José Mojica Marins foi dublado.
Na década de 1960, diversos filmes nacionais necessitavam ser dublados, por diversas razões:
nitidez de som nas externas e até realçar uma melhor interpretação.

Algumas vezes o próprio ator dublava o seu personagem, mas em outras ocasiões utilizava um
profissional qualificado.
Na Odil Fono Brasil, lhe mostraram vários filmes, para que escolhesse um dublador.
Mojica ficou particularmente impressionado com a voz usada para dublar o ator italiano Mario Carotenuto: a voz de Laercio Laurelli. Laurelli fez a voz de Zé do Caixão em À Meia-Noite
Levarei Sua Alma, Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver e O Estranho Mundo de Zé do Caixão; enquanto O Ritual dos Sádicos, Finis Hominis, Quando os Deuses Adormecem foram dublados por
Araken Saldanha, na AIC; já Exorcismo Negro e Delírios de um Anormal tiveram a voz de João Paulo Ramalho, também na AIC.


Vida
Nascido em uma fazenda pertencente à fábrica de cigarros Caruso, no bairro da Vila Mariana, em São Paulo, é filho dos hispano-brasileiros Antônio André Marin e Carmen Mogica Imperial.

Ainda criança, passava horas lendo gibis, assistindo a filmes na sala de projeção do Cinema em que seu pai trabalhava, brincava de teatro de bonecos e montava peças com fantasias feitas de papelão e tecido. Quando tinha três anos, a família de Mojica veio a se mudar para os fundos de um cinema na Vila Anastácio. O pai de Mojica passou a ser gerente do cinema.

Depois que ganhou uma Câmera V-8, aos doze anos, não mais parou de fazer cinema, essa era a sua vida. 
Muitos de seus filmes artesanais feitos nessa época eram exibidos em cidades pequenas,
cobrindo assim os custos de produção. Autodidata, montou uma escola de interpretação para amigos e vizinhos e quando tinha 17 anos, depois de vários filmes amadores, fundou com ajuda de amigos, a Companhia Cinematográfica Atlas. 
Especializado em terror escatológico, criou uma escola de atores (1956), onde na década seguinte, montaria uma sinagoga (1964), no bairro de Brás, onde fazia experiências com atores amadores, usando insetos para medir sua coragem.
O começo de sua carreira profissional se deu em 1950.






Depois da fundação de sua escola, a carreira profissional de Mojica Marins passou a ficar cada mais mais próxima. Mojica Marins tentou realizar o filme Sentença de Deus por três vezes e o filme acabou como inacabado.
Após isso produziu A Sina do Aventureiro, e Meu Destino em Tuas Mãos.


A personagem Zé do Caixão





Mojica Marins criou uma personagem popular sem se basear em nenhum mito do horror conhecido mundialmente. 
"Zé do Caixão", sua personagem mais conhecida, foi criado por ele em 11 de outubro de 1963, após ser atormentado por um pesadelo no qual um vulto o arrastava até seu próprio túmulo. 
Segundo o próprio José Mojica Marins, o nome Zé do Caixão veio de uma lenda de um ser que viveu
há milhões de anos no planeta terra que se transformou em luz e depois de anos esta luz voltou a terra.
A primeira aparição da personagem foi no filme À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964).
Desde então, ele apareceu em diversos filmes, ganhou popularidade e tem sido retratado em diversas outras mídias.
Nos Estados Unidos, ele ficou conhecido como “Coffin Joe”.

Embora raramente mencionado nos filmes, o nome verdadeiro de Zé do Caixão é Josefel Zanatas. Marins dá uma explicação para o nome em uma entrevista para o Portal Brasileiro de Cinema.
" Eu fui achando um nome: Josefel – “fel” por ser amargo – e achei também o Zanatas legal, porque de trás para frente dava Satanáz".






Zé do Caixão é uma personagem amoral e niilista que se considera superior aos outros e os explora para atender seus objetivos. 
Um descrente obsessivo, uma personagem humana, que não crê em Deus ou no diabo. O cruel e sádico agente funerário Zé do Caixão é temido e odiado pelos habitantes da cidade onde mora.
O tema principal da saga da personagem é sua obsessão pela continuidade do sangue: ele quer ser o pai da criança superior a partir da "mulher perfeita". Sua ideia de uma mulher "perfeita" não é exatamente físico, mas alguém que ele considera intelectualmente superior à média, e nessa busca ele está disposto a matar quem cruza seu caminho.






Quanto à concepção visual do Zé do Caixão fica evidente a inspiração da personagem clássica Drácula (interpretada por Bela Lugosi na versão da década de 30, da Universal).
Entretanto, Mojica acrescentou aos trajes negros e elegantes da personagem características psicológicas profundas e enraizadas nas tradições brasileiras. Além disso, as unhas grandes foram claramente inspiradas na personagem-título de Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens.

Seus filmes foram censurados pela ditadura militar brasileira, considerando-os amorais e subversivos.
Mojica dirigiu 40 produções e atuou em mais de 50 filmes. Seu interesse pelo cinema de terror escatológico começou nos anos 1950, e se instalou com o sucesso de À meia noite levarei tua alma em 64.
Ele também influenciou o movimento do cinema marginal nos anos 1960.


Zé do Caixão - À Meia Noite Levarei Sua Alma
Por falta de um ator, pois não havia nenhum que se submetesse à caracterização da personagem, o autor transformou-se em Zé do Caixão. Mojica, na época, estava de barba, por causa de uma tradição de família.
Com o tempo o nome da personagem passou a confundir-se com o do próprio autor e lhe trouxe praticamente toda sua fama. Com dificuldades, ele realizou as filmagens de À Meia Noite Levarei Sua Alma, com apenas atores de sua escola de teatro.
O filme marca a maturidade de José Mojica Marins como diretor, que se relaciona perfeitamente com o domínio da linguagem cinematográfica. Em À meia-noite levarei sua alma há todo um requintado trabalho de construção de espaços diferenciados para Zé do Caixão, e esse é o modo como o filme logra distinguir este personagem dos outros.
Após a etapa de montagem com Luiz Elias, Mojica Marins iria atrás do distribuidor da Bahia que havia levado A Sina do Aventureiro e que estava em São Paulo e havia ido à Boca do Lixo. Após assistir o filme montado, o distribuidor passou a divulgar o filme que já era tido como um grande sucesso.
Na mesma época, Mojica Marins relançou A Sina do Aventureiro e teve um retorno lucrativo grande.
Ele havia feito amizade com um cineasta cubano que realizava filmes pornográficos e pediu a Mojica que acrescentasse mais dez minutos de cenas mais fortes - onde Mojica colocou algumas cenas de nudez de algumas moças.
O filme foi vendido por cerca de 20% do que havia sido gasto.






Era Cine Trash








Apresentou, na década de 1990, precisamente em 1996 o programa Cine Trash, que obteve alta audiência e as apresentações macabras de Zé do caixão se tornaram um marco na televisão, o programa foi exibido na Rede Bandeirantes, e apresentava todos os dias um filme diferente de horror.






Mojica teve seus títulos lançados na Europa e nos Estados Unidos, onde participou de mostras, festivais e recebeu muitos prêmios.
Sua participação na mídia foi muitas vezes de maneira cômica.
Atualmente, teve um programa de entrevistas chamado O Estranho Mundo de Zé do Caixão, no Canal Brasil onde entrevistava celebridades diversas.






Zé Do Caixão tem uma filha chamada Liz Vamp também cineasta e atriz.









Em 2009 interpretou um personagem diferente no longa-metragem de Cesar Nero, em vez de Zé do Caixão, o nome de seu personagem era Dark Morton, porém o visual da personagem era o mesmo de Zé do Caixão, com a tradicional cartola e capa preta.

No Carnaval Carioca de 2011, foi homenageado e participou do Desfile da Escola Unidos da Tijuca, Vice-Campeã.





Em 2012, prefaciou o livro 3355 Situações Que Você Deve Saber Para Não Morrer Como Nos Filmes de Terror, do escritor Gerson Couto.

Em 2013, apareceu na capa do disco Expulsos do Purgatório , curiosamente ano 13, da lendária banda punk Excomungados e nos encartes juntamente com os integrantes, sendo que o vocalista Pekinez Garcia, toca nu inspirado na personagem principal do filme Finis Hominis.

Em 2014, José Mojica ficou por quase um mês internado no Incor, em São Paulo, onde passou por um cateterismo cardíaco planejado e desobstrução de uma artéria que estava com bloqueio. Na ocasião, ele foi submetido a uma angioplastia, procedimento para desobstruir vasos entupidos, e colocou três stents, tubo inserido para normalizar a passagem de sangue dentro da artéria. Por conta disso, o intérprete de Zé do Caixão passou a fazer diálises (filtragem do sangue) três vezes por semana.

Em 2015, o canal por assinatura Space fez uma minissérie biográfica sobre Mojica intitulada Zé do Caixão, interpretando o cineasta por Matheus Nachtergaele.






Alguns títulos que se destacam entre muitos:


À Meia Noite Levarei Sua Alma  






Zé do Caixão, um cruel coveiro, quer gerar um filho para dar continuidade ao seu sangue. Mas sua mulher não consegue engravidar e ele acaba estuprando a mulher do seu melhor amigo, que agora deseja se suicidar para regressar do mundo dos mortos e levar a alma de Zé do Caixão.
Um marco do terror nacional, subestimado e de qualidade notável e original em sua época.







Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver  






O coveiro Zé Do Caixão continua sua busca obsessiva: encontrar a mulher ideal para gerar seu filho perfeito - após sobreviver ao ataque sobrenatural no desfecho em À Meia Noite Levarei Sua Alma. 
Com ajuda do fiel criado Bruno, ele rapta seis beldades, submetendo-as a terríveis sessões de tortura. Aquela que mostrar mais coragem e sobreviver será eleita. No entanto, o coveiro comete um erro imperdoável ao assassinar uma moça grávida.
Atormentado pela culpa, ele tem um pesadelo no qual é levado para um inferno gelado, onde encontra todas as suas vítimas.
Uma ótima continuação com dose de horror à altura do primeiro e cenas bem arquitetadas, como só o mestre Zé era capaz de produzir.





A Encarnação do Demônio  





A ideia era que 'A Encarnação do Demônio' fosse a terceira parte da trilogia inicial de Zé do Caixão, que compreende  'À Meia-Noite Levarei Sua Alma' e 'Essa Noite Encarnarei no Seu Cadáver', os dois primeiros sucessos de José Mojica Marins. Mas a história ficou no papel e foi engavetada.
Em 2006, 40 anos depois de ter sido escrita, Mojica anunciou que 'A Encarnação' finalmente iria virar filme.
Selecionado (numa sexta-feira 13) no primeiro edital para longas-metragens de baixo orçamento do Ministério da Cultura, em 2006, e contemplado com 1 milhão de reais, 'Encarnação do Demônio' marcou a volta de José Mojica Marins à direção de cinema.

Segundo o cineasta, 'A Encarnação do Demônio' encerra a história do personagem Zé do Caixão, concluindo assim a trilogia.
Sem dúvida uma dos melhores e mais bem produzidos filmes do Zé.





O Estranho Mundo do Zé do Caixão  





Elevado ao estado inatingível dos seres sobrenaturais, Zé do Caixão desafia sua filosofia e apresenta três contos. Em O Fabricante de Bonecas, marginais invadem a casa de um velhinho e descobrem o
segredo da confecção de suas bonecas. Em Tara, um vendedor de balões fantasia uma paixão doentia por uma garota que ele segue obsessivamente pelas ruas. Em Ideologia, o excêntrico Professor Oãxiac Odéz tenta provar a um rival que o instinto prevalece sobre a razão, usando métodos nada  ortodoxos.






Exorcismo Negro  





O diretor José Mojica Marins viaja durante o Natal com os amigos no sítio onde vivem, para escrever a história de seu próximo filme. No entanto, ele observa coisas misteriosas na casa, com seus amigos sendo possuídos um por um, por alguma força sobrenatural. 
Mais cedo, ele descobre  que a matriarca da família fez um acordo com uma bruxa local para engravidar e salvar seu casamento. Em troca, Malvina deve indicar quem se casaria com a menina. No entanto, sua filha está envolvida por seu noivo amado e Malvina quer que ela se case com Eugênio, que é filho de Satanás. Além disso, José Mojica descobre que sua criação ficcional Zé do Caixão está pronto para recolher as almas da família de Wilma e apenas o exorcismo pode salvar essa família condenada.
Um roteiro único e clássico da metalinguagem nacional, trazendo o próprio Mojica como personagem principal numa história macabra por trás dos bastidores.
Um grande título do horror que vale a pena ser reconhecido.










Prêmios


À Meia-Noite Levarei Sua Alma

Prêmio Especial no Festival Internacional de Cine Fantástico y de Terror Sitges (Espanha), em 1973;
Prêmio L’Ecran Fantastique para originalidade, em 1974;
Prêmio Tiers Monde da imprensa mundial, na III Convention du Cinéma Fantastique (França), em 1974.
Ritual dos Sádicos (O Despertar da Besta)

Melhor ator (José Mojica Marins) e Melhor Roteiro (Rubens Lucchetti), no Rio-Cine Festival, em 1986.

Encarnação do Demônio

Troféu Menina de Ouro de Melhor filme de ficção por júri oficial e crítica, Melhor fotografia (José Roberto Eliezer), Melhor montagem (Paulo Sacramento), Melhor edição de som (Ricardo Reis), Melhor direção de arte (Cássio Amarante) e Melhor trilha sonora (André Abujamra e Marcio Nigro) no 1º Festival Paulínia de Cinema, em 2008;
Melhor Diretor de Cinema (José Mojica Marins), no 2º Prêmio Quem de Cinema, 2008;
Melhor Direção de Arte (Cassio Amarante) e Prêmio Especial de Atuação pelo Conjunto da Obra, no Prêmio de Cinema do Paraná, 2008;
Indicação a Melhor Direção de Arte (Cassio Amarante) e Efeitos Especiais (Kapel Furman, Rogério Marinho, Robson Sartori), no Grande Prêmio Vivo do Cinema Brasileiro, 2008;
Melhor Melhor Ator (José Mojica Marins) e Melhor Direção de Arte (Cassio Amarante), tendo sido indicado a Melhor Direção (José Mojica Marins), Melhor Roteiro (Dennison Ramalho e José Moijica Marins), Melhor Atriz (Cléo de Paris), Melhor Ator Coadjuvante (Jece Valadão), Melhor Atriz Coadjuvante (Helena Ignez) e Melhor Trilha Sonora (André Abujamra e Marcio Nigro), no V Prêmio FIESP/SESI-SP de Cinema Paulista, em 2009;
Prêmio de Melhor Fotografia (José Roberto Eliezer) e indicado a Melhor Filme, no Prêmio Contigo de Cinema;
Segundo lugar no Fant-Asia Film Festival, na categoria de Melhor Filme Internacional, em 2009;
Prêmio do Júri Carnet Jove do Sitges - Catalonian International Film Festival, em 2008.
Outros

Prêmio Fantasporto por Carreira e Conjunto da Obra, em 2000.







Falecimento





A morte surpreendeu os fãs, já que poucos sabiam que o cineasta estava debilitado há alguns meses.
Em entrevista, Liz Marins, filha de Zé do Caixão, contou que ele faleceu após uma infecção no aparelho respiratório.
Segundo ela, o cineasta foi internado há algumas semanas após aspirar a refeição.
Mojica deixa sete filhos.



Com Tim Burton, seu fã declarado, em sua vinda ao Brasil, quando se disse honrado por conhecê-lo.








Familiares, fãs e amigos prestaram as últimas homenagens ao cineasta, nesta quinta-feira dia 20. 
O caixão permaneceu aberto, com um véu branco por cima, em cima de um palco no auditório do
MIS.
O corpo de Zé do Caixão foi enterrado no Cemitério São Paulo, às 12 horas da sexta-feira dia 21.


Descanse em paz Mestre Zé.
Lenda e ícone do horror eterno cujo brilhante legado jamais será esquecido.








O mundo de Helena envia condolências e nosso mais profundo sentimento à família.





RIP Zé.






1936- 2020


"Meu coração está aos pedaços. O maior ícone da minha vida acaba de partir.
José Mojica Marins fez parte do meu universo, da minha paixão e do meu amor pela arte nacional de horror.
Foi uma honra pra mim ter podido te encontrar e realizar esse sonho enquanto você estava entre nós.
Uma era que se finda e uma perda irreparável.
Saudades eternas lenda.
Toda força e meu sentimento à família. Rip Zé." 💔

Helena Dalillah


Se você se diz fã de horror e nunca viu o horror nacional de Zé do Caixão você não é um fã de horror.


Seu legado será para sempre lembrado.








ETERNO ZÉ


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