quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Carta aberta

 

Carta aberta aos homens






Como uma mulher, não digo menina, mas mulher, pois um dia já fui menina; tenho certas considerações a fazer sobre o sexo masculino como um todo, na atualidade.

Antes de mais nada, venho dizer que essa carta é um lado de uma visão que representa muitas mulheres, não somente a que vos fala.

Sim, sempre fazemos um laboratório ao escrever uma posição ou artigo, e antes de mais nada se o ego for frágil e gerar ofensa, quero que saibam que esse texto é para o objetivo de reflexão, e jamais ataque, ok? (Em tempos como hoje, que deve se dizer o óbvio, não custa avisar).

Eu sai com muitos homens, e até com mulheres e trans também. 

Eu também já me relacionei com inúmeros homens, de muitos credos, estilos e culturas.

Uma coisa que pude observar recentemente, é que sair não significa necessariamente sair, como antigamente.

Um encontro, um date, um jantar, as vezes se resume apenas em uns minutos, uma hora, ou uma conversa superficial de passagem e se considera como um encontro, ou pelo menos se julga assim.

Eu não tenho problema algum com a geração moderna, da selfie, imediatista, de stories que somem após 24 horas, do "quero/não quero", e ele "curtiu minhas fotos, deve estar a fim." 

Mas tenho uma observação notável.

Hoje em dia está tudo fácil, tecnologia ao alcance da mão, tv a cabo, internet, pesquisa disponível o dia inteiro e bem na nossa frente.

Antigamente a gente ligava, visitava, tinha que haver interação, convite, procura, e até oportunidade,  havia o contato, de olhos, de voz, de presença, de gente.

Hoje em dia se flerta por um celular, nada contra; os tempos mudam.

Porém não me parece fácil sair, nem conhecer homens nos dias de hoje, como deveria ser.

O por quê ?

Justamente por estar tudo tão fácil e acessível se banaliza, e se perde o interesse de procurar.

Tem muitas opções, tamanhos, detalhes de mulher, e para um homem, que em sua maioria é visual, a escolha se torna muito vasta e confusa.

Badoo, Tinder, Pof, Instagram, facebook, e tantos outros, em que uma mulher é apenas uma foto: uma imagem e uma descrição. Em que se pode optar: deixar pra depois, achei interessante, quero, não quero, passo.

Baseado em uma imagem, uma descrição, uma pessoa do sexo feminino, com vivências, experiências, pensamentos, sentimentos, essência, natureza, opiniões e inúmeras peculiaridades. 

Toda a complexidade do ser resumido em foto e descrição.

Rótulo.

Isso é justo?

Mas você pode me dizer: - Ué, para a mulher a busca funciona da mesma forma. 

Sim, funciona.

Mas se fala de seres distintos, homemXmulher, originários de planetas completamente diferentes, apesar de se complementarem em muitas ocasiões.

E quando se escolhe; e há uma conversa, afinidade, ou o mínimo interesse, se passa pra próxima fase, que é o encontro ao vivo.

E de lá após muitas conversas, ou não, se define um caso, uma noite, se vai adiante, alguns meses, ou se somente um momento de prazer carnal, e tudo bem, porque a escolha é de cada um.

Mas uma mulher que procura conhecer alguém num site ou app tem de fato uma escolha ?

É uma questão para se refletir.

Partindo da premissa que "todo mundo" usa tais apps, e está sujeito a tudo, por estar lá, fica mais uma dúvida que muitos impõem: a mulher aceita um homem, que mal conhece, ou quer conhecer melhor, e se aquilo tudo não sair como previsto, ou ate´envolver danos físicos e morais, ela que se vire, pois ela quis ir e a responsa é dela, certo?

Não. Não é.

Nem deveria ser.

É óbvio que não se pode prever no que vai dar um encontro, ou se as partes envolvidas serão de caráter, mas não é culpa de ninguém ser lesado pelo outro apenas por estar procurando se envolver com alguém legal.

Uma maioria de homens buscam tais sites unicamente para copular com o sexo feminino mais facilmente, não os culparei, e uma grande parte das mulheres faz o mesmo, e também há mulheres que querem conhecer alguém especial, sem estar com o foco apenas em sexo rápido, e claro que existem exceções para os dois lados.

Além de se dançar conforme a música para se ter seu objetivo, muitos homens não são honestos o bastante.

As vezes uma mulher quer apenas dar uma risadas, uns beijos, ou até mesmo dividir uma comida e conversar sobre o trivial. Passar o tempo. E na menor das hipóteses fazer um amigo.

As vezes um homem só quer que ela facilite logo, coma rápido e aceite ir com ele para casa ou motel, para no dia seguinte virar a página, e se buscar por outra.

O sexo consensual para quem pratica pode ser bom, desde que seja recíproco de ambas as partes, o que nem sempre é.

As vezes a mulher acaba cedendo ir para a cama por insistência do cara, ou até uma quase coação, "poxa ele deixou a casa dele pra vir me conhecer, o que posso dar em troca? " Como se a mulher devesse estar em dívida com o homem por isso.

Quando o sexo é atrativo para ambos, e há um respeito de limites, independente do depois, pode funcionar para ambas as partes.

Mas, e quando não é ?

E quando um homem apenas quer usufruir do prazer do corpo feminino sem permissões ou limites, e para isso ele se envolve, conquista, ganha confiança, apresenta para todos como troféu, e o objetivo era somente um: o gozo fácil, independente se estava confortável ou não para a parceira.

No fim o saldo é positivo, para ele; fazer sem perguntar, entrar sem permissão, e até mentir por conveniência; mas seria também para ela?

Não seria mais justo existir um app com o título de "Apenas sexo" ou "o que rolar" para menos engano e desilusão de qualquer parte que não quisesse se comunicar?

Isso é injusto, mas com certeza seria mais notado se acontecesse o oposto, e fossem as mulheres que abusassem da confiança, do corpo, do limite do macho.

O homem pagou o jantar, ou não, ou se deslocou e abriu a porta do carro, buscou a mulher, sorriu, ofereceu um presente ou um carinho, pegou a mão, deu um pouco de atenção por uma noite: pronto ele já está qualificado para exigir o que quer dela. Sem pudores.

Sem conversa?

Sem proteção?

Sem respeito?

O homem cresce, desde menino, muitas vezes sem informação, vendo internet e filme pornô, e presumidamente acha que uma mulher deveria gostar ou sentir prazer com o que é reproduzido na tela de um filme adulto.

Um conteúdo por vezes sem roteiro, limite, ou consenso, feito apenas para os olhos masculinos.

E quando ele fica com uma mulher bela na cama, pode culpar sua beleza por ter se empolgado, por ter batido com força, por ter sido violento, ou ter gozado sem avisar, dentro ou rápido.

A culpa foi da mulher.

Essa é uma carta aberta aos homens auto intitulados "macho alfa" por terem muitas parceiras, 'comerem' todas, ou trocarem de amantes como de cueca.

Você, homem em questão, pode viver da forma que lhe servir melhor, mas antes de decidir usufruir, brincar, deflorar, penetrar sem carinho, ou gozar naquele corpo sem proteção ou aviso, lembre-se de que aquele corpo tem uma alma, tem psicológico, sentimentos, vivência, passado, vontades, e até traumas também, e que sente dor, como você, mesmo que de forma diferente.

E se você continua achando que isso é ser "o macho", traindo, colecionando corpos, conversas, calcinhas, mudando de energia na sua cama a cada noite, e facilitando a propagação de dst para você e elas, eu não vou te contestar, faça o que tu queres.

Mas ao lidar com uma alma feminina, busque conhecer antes de meter.

Tente conversar antes de prometer.

Procure humanizar antes de julgar.

E procure ser honesto, antes de só usar.

Não estamos na idade média.

E só então, se quiser se relacionar, procure dialogar e entrar em acordos. Dizem que o ser humano moderno que evoluiu da idade da pedra faz isso, não é mesmo?

E se não puder, sugiro que abandone os sites e compre uma boneca inflável, e bem funda, pois com certeza vai lhe ser mais útil, e vai evitar sentimentos, discordâncias, protestos, diálogos, e até processos legais.


Helena Dalillah



Sem mais. 






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Até a próxima. 



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