No tópico dessa semana um assunto polêmico principalmente entre as mulheres.
Lembrando que o post é opinião, o texto é apenas a posição do Mundo de Helena.
Um tema que é um tabu, e não há como se falar sobre sem parecer ofensivo a muitos, mas não ficaremos em cima do muro.
Aborto
por Helena Dalillah
Num mundo como esse, em que tudo é ofensa e piadas são levadas a sério, levanto um assunto em que realmente não se brinca, e me permito expor o outro lado sem julgamentos, sem preconceitos, e sem desrespeito. Apenas o outro lado.
Sou a favor.
Porque?
Pelo simples motivo de que uma pessoa deve fazer o que considera melhor pra si; e a decisão de ser a favor concerne a quem está na situação em questão, e jamais se poderia determinar o que faz feliz o outro independente de uma escolha pessoal.
O que é melhor pra mim, você -que é mãe ou não- também não tem o direito de julgar nem deve estipular.
A questão é: o aborto é e deveria ser uma escolha e só choca tanto por inúmeras pessoas desinformadas e domínio das crenças num país como o nosso, -que se diz laico-, mas tem na bancada no poder, nomes envolvidos em religião que muitas vezes não buscam uma solução prática e decidem baseado apenas em sua fé e não como uma questão de saúde pública.
Não critico e jamais vou julgar alguém pela sua religião, mas num caso em que envolve saúde e mortalidade de milhões de mulheres, é preciso muito mais do que uma explicação religiosa para se solucionar a questão coerentemente.
Numa gravidez ainda no início não há bebê propriamente dito como a maioria das pessoas acredita, basta que se pesquise sobre o assunto, não há morte ou dor em um aborto seguro realizado nas primeiras semanas.
Porque não há bebê ali, e isso é comprovado pela ciência.
Um coração que bate não quer dizer vida propriamente, até porque não existe cérebro formado ali até determinado período, na medicina inclusive quando numa patologia ou caso de acidente o cérebro morre, com o coração batendo ou não a pessoa é considerada morta porque não pode sobreviver sem o cérebro.
A vida está no cérebro, e uma maioria das pessoas não entendem ou ignoram esse fato.
Fazendo um aborto clandestino centenas de mulheres ou mais morrem por ano.
No Brasil há pessoas que não utilizam proteção, e que não tem estrutura nenhuma ou condição favorável para viver, há inúmeros estupros - caso em que no Brasil é legal a prática do aborto- e há o zika vírus também, enfim eu não acho que nenhum desses casos seja menos merecedor do direito de realizar um aborto, se assim a mulher quisesse, e pronto.
A você que é, e quer ser mãe: Meus parabéns, se você fez isso realmente querendo e optou por ser mãe, isso é ótimo, pois com certeza você criará seus filhos com consciência, respeito e justiça e deveria ser assim com todas.
Deveria, mas não é.
Existe proteção, e mesmo com o uso existem acidentes.
Há a porcentagem de falha de todos os métodos contraceptivos, e se mesmo assim acontecesse um acidente e a mulher engravidasse contra sua vontade com contracepção, ela não poderia escolher gerar ou não uma criança porque seria julgada pela sociedade?
Também existem pessoas relapsas que se esquecem da proteção, ou ignoram, e muitas vezes isso resulta numa gravidez, a falta de informação e inconsequência da juventude e população em geral de hoje é grande, mas essa realmente não é uma questão justa para se condenar um aborto, ou vice versa, apenas um porém da nossa sociedade, e que está longe de acabar.
Não é porque sua opinião é contra o aborto que milhares de mulheres vão deixar de abortar correndo risco, e morrer todos os dias.
Não é só porque você teve um filho acidentalmente e virou uma mãe frustrada que toda mulher deve pensar que seu destino é ser obrigatoriamente uma mãe frustrada.
Não é só porque você foi mãe sem querer que todas as mulheres tem que passar pelo mesmo.
Não é só porque você optou e é feliz sendo mãe que todas as mulheres foram feitas para serem mães.
Você jamais pode dizer o que cabe ao outro como também o outro não tem porque interferir na sua escolha, mas as opções existem, e goste você ou não ela é sua, minha e de cada um, pelo menos é como deveria ser.
E sim, você tem todo direito de discordar, e vice versa, mas pensar "fora da caixa", deixar o seu nicho de pensamento, sair do próprio umbigo e pensar na situação do país abrindo a mente para ver de fora também é algo que muitos deveriam fazer para tentar compreender o mundo do outro.
Helena Dalillah
Trecho do depoimento de Renata Corrêa:
" Quando me perguntavam por que eu decidi ficar grávida e ter um filho, eu sempre respondia a única coisa que parecia correta para mim: eu quero. Eu desejo isso. Nunca entendi muito bem aquelas pessoas que diziam ter filhos para que cuidassem deles quando velhos, ou porque é isso que as pessoas fazem, casam e têm filhos. Para mim todas as respostas são um equívoco. O único motivo para se querer botar um filho no mundo é: querer.
Da mesma forma que eu defendo esse desejo soberano de ser mãe, eu também defendo o desejo soberano, legítimo e completamente inquestionável de não querer ser a mãe de alguém. Eu sinceramente não faço nenhum juízo de valor dos motivos: priorizar a carreira, não se sentir com vontade de cuidar de uma criança, não ter dinheiro, parceiro fixo, sinceramente não me importa. Basta não querer, e não querer deveria ser o melhor e mais respeitado motivo de todos.
Então eu realmente não consigo compreender que uma mulher que passou por essa experiência transformadora da maternidade, que te joga no olho do furacão das subjetividades e te obriga a olhar a vida na perspectiva de um outro (que não fala, não se move, e se comunica apenas através do querer, como um recém nascido) acredite que todas as mulheres devem ser obrigadas a passar pela experiência da maternidade. Ninguém deveria ser obrigada, se assim não é o seu desejo. Ninguém deveria ser obrigada a passar por uma gravidez, um parto, um puerpério e ser responsável por outro ser durante toda a vida se essa não for sua vontade.
Recentemente eu lancei um documentário chamado Clandestinas, sobre mulheres que fizeram um aborto ilegal no Brasil. Esse documentário foi muito bem recebido em alguns países da Europa, e muitas pessoas legais me procuraram para saber mais detalhes da realidade brasileira. A pessoa mais curiosa era um juiz francês, que ficou muito impressionado que em um País laico e democrático como o Brasil as mulheres não pudessem interromper um processo gestacional se assim fosse sua vontade. Que para ele, ter direito sobre o próprio corpo era um dos pilares da civilidade. Expliquei que o Brasil apesar de laico na teoria era um país de influência católica e cristã muito forte, e que existiam bancadas religiosas no parlamento com muito poder e influência. Ele ficou muito impressionado, e comparou a situação das mulheres brasileiras à Sharia, que é quando os países islâmicos abandonam o sistema político e jurídico para usar o Alcorão como único livro das leis. Como se aqui no Brasil se extinguissem o código civil, penal, a constituição e usássemos como parâmetro apenas a Bíblia. No início achei um exagero, mas na prática somos legislados por aqui mais por preceitos morais e religiosos do que pela lei de fato – assim como mulheres islâmicas que vivem sob a Sharia não podem sair na rua sem um acompanhante masculino, e nem devem frequentar escolas ou qualquer instituição de ensino formal, no Brasil devemos nos submeter à uma legislação atrasada que coloca nossas vidas em risco.
Eu já bati muito nessa tecla, mas uma gravidez não é um bebê – não há morte, assassinato ou dor em um aborto seguro realizado nas primeiras semanas. Não há. Não sou eu quem digo, é a ciência. Uma gravidez indesejada não deveria ser uma condenação para mulher. Vivemos em um mundo tão contraditório, que se diz que a gravidez e o bebê são as melhores coisas do mundo, mas usamos os bebês e a gravidez para punirmos as mulheres que não desejam ser mães ou não desejam ter mais filhos.
Quando uma mulher decide abortar não existe legislação no mundo que vá impedir que ela o faça. Brasileiras com grana irão pagar clínicas caras, viajar para outros países, importar medicamentos. Mulheres pobres e adolescentes em pânico se jogarão em frente de carros, usarão objetos caseiros pontiagudos, se envenenarão. Muitas delas irão morrer sem atendimento médico adequado. Muitas delas irão ter sequelas pela vida inteira, pelo simples fato de não desejarem gerar um filho. É cruel e doentio que isso aconteça nas barbas do Estado. O presidente da Câmara dos deputados Eduardo Cunha disse que só se legisla sobre aborto no Brasil por cima do cadáver dele. Mas a ilegalidade do aborto já passa por cima do cadáver de milhares de brasileiras todos os anos.
Você, mãe que postou orgulhosa a sua barriga de grávida para impedir que o aborto fosse legalizado, eu te desafio. Eu te desafio a transpor a generosidade e a empatia que você tem com outras mães e com bebês para as mulheres que não desejam ser mães. Eu te desafio a repensar a sua postura sobre o aborto – e por mais que você nunca passe por esse dilema moral na sua vida, milhares de mulheres estão passando por ele agora. Muitas amigas suas passaram.
Muitas mulheres da sua família passaram. E elas estão sofrendo em silêncio pois sabem que esse é um assunto proibido. Eu te desafio a pensar fora do que “eu” faria e do que “eu” acho certo para se colocar no lugar dessas outras mulheres, que não vêem alternativa e que precisam de apoio e acolhimento e não da condenação e julgamento de outras mulheres.
Eu te desafio a pensar outra vez sobre aborto. "
Renata Corrêa
Segue o Documentário Uma História Severina, muito recomendado para entender o tema:
Documentário Clandestinas :
Série de vídeos do youtuber Clarion de Laffalot sobre a opção de ter filhos:
Aos que leram concordando ou não; nosso muito obrigado.
Aos que tem a mente aberta o bastante para considerar e conhecer o outro lado sem condenar, e conseguem pensar na situação como um todo sem egoismo nossos parabéns!
Obrigada e até a próxima.
tenho o mesmo pensamento desde os 14 anos.Não há nada de egoísta em não ser querer ser pai ou mãe,o pior é ser um pai e mãe
ResponderExcluirirresponsável ,não dar educação e nem saúde...etc e deixar apenas um fardo para o mundo.
o mesmo vale para o aborto,o fato de descriminalizá-lo não faria com que todas as mulheres abortassem a torto e a direito,seria apenas uma solução legal para alguém que simplesmente não quer ser mãe ou pai.
O corpo de uma mulher pertence a ela mesma.
ResponderExcluirLiberdade é sempre citada quando se trata de um homem mas quando é uma decisão da mulher ela é taxada e julgada.
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