A lógica ilógica do nosso ano de eleição
Porquê algumas pessoas escolhem o fascismo.
O que aprendi com mulheres que votam no opressor
nosso dever cívico contar isso didaticamente às nossas crianças.
Nesses tempos distantes o Brasil pós-ditadura – que ainda se lembrava bem do
terror da ditadura, e por isso buscava fortalecer a democracia – já foi um país
em que a Constituição não era só papel.
O que vocês veem hoje, crianças – golpe judiciário-parlamentar, com o supremo
com tudo, presidenciáveis que fazem campanha jejuando em montes, mulheres que
votam em candidatos misóginos e negros que votam em candidatos racistas – é o
desastroso resultado do mau hábito do brasileiro de não valorizar suas memórias.
A cultura foi vergonhosamente desmontada e o Museu Nacional reduzido às cinzas.
Como não repetiremos nossas mazelas no eterno retorno da história se fazemos
questão de nunca nos lembrarmos delas?
Mas em particular para o mistério das mulheres que votam em um candidato que com
seu discurso de ódio aponta uma arma para as cabeças de todas as minorias, arrisco
alguns palpites:
As mulheres que conheço que votam no candidato inominável – são poucas, porque a maioria
está engajada contra o fascismo e seus porta-vozes -, parecem, em geral, estar apenas
seguindo o terrível padrão dos machos de suas famílias.
As sufragistas se reviram no túmulo.
Votam nele porque o marido vota, porque ele quer comprar uma arma pra proteger os
filhos dos bandidos – mesmo que eventualmente os filhos se matem brincando com a arma
– porque ele vai “criar a pena de morte para estupradores” (amiga, presidentes não
criam leis ou penas), porque ele é o candidato que defende aquilo que lhe ensinaram
ser o bem mais precioso de uma mulher: sua família tradicional, formada por marido,
esposa, filhos, amante, filhos com a amante e a travesti que o marido pega quando dá
uns raios.
Eu não ousaria ser leviana neste momento tão delicado: antes de escrever, conversei
com mulheres bolsonaristas, e as justificativas giravam em torno da mesma afirmação:
“eu e minha família votamos no mesmo candidato” (leia-se: meu marido toma todas as
decisões da casa, inclusive em quem votarão todos membros da família). Em geral,
votam para serem admiradas e cumprir o que acreditam ser seu papel, e não por convicção.
Decerto seria menos lamentável, embora não fizesse o menor sentido, se essas mulheres
votassem em um candidato misógino porque se sentem representadas por ele, mas não: elas
só estão, mais uma vez, se anulando (inclusive politicamente) para seguir à risca seu
papel social e agradarem àqueles que acreditam serem os únicos capazes de legitimá-las:
os homens.
Não tenho raiva dessas mulheres: o que elas me despertam é compaixão – compaixão é
quando você sente a dor do outro – por saber que estão tão desesperadas por legitimação
social na sociedade patriarcal (como eu mesma já estive), que topam qualquer negócio –
até mesmo inventar motivos para votar em um candidato que as violenta com discursos e
pretende violenta-las com um governo misógino.
É triste, e não me cabe julgá-las, mas é o meu dever deixar estas considerações.
Caras mulheres bolsonaristas: o candidato que vocês pretendem eleger
aprovou apenas dois projetos de lei em vinte e seis fucking anos de atuação no Congresso –
ou seja, ele teve vinte e seis anos pra “armar o cidadão de bem” e nem pra isso serviu.
Ah, ele também é anti-debates, pró-violência com uma pitada de fundamentalismo, de modo
que o resultado mais provável da terrível possibilidade de eleição deste senhor para a
Presidência seria o enfraquecimento do Estado e das instituições – um ótimo cenário para
o total colapso da democracia, que não por acaso é o que os militares sempre quiseram desde
o fim da ditadura.
O candidato que vocês pretendem eleger não é “contra estupradores” – inclusive assina um
projeto de lei que desobriga os hospitais do SUS a atender prioritariamente mulheres vítimas
de violência sexual – é apenas a favor do ódio, e, adivinhe: estupro é um crime de ódio.
O homem que vocês pretendem eleger colocará em risco não só a democracia, mas também todas
as instituições, inclusive a família, a mais preciosa herança da mulher de bem, por isso façam
o que quiserem, mas façam por vocês mesmas e pensem com suas próprias cabeças.
Se a ideia é só agradar o marido, faz um bolo.
Nathalí Macedo
Você é mulher e vota? Pense outra vez
Eu diria que hoje em dia se observar no povo a intolerância, o preconceito e o fascismo é amargo, mas apenas o espelho de uma geração sem cultura.
Seria absurdo se não fizesse sentido.
Além de um absurdo, é surreal, mas acima de tudo é extremamente triste.
O nível de desinformação no país tem crescido muito ao mesmo tempo em que tem caído vertiginosamente o orçamento da educação.
E quando não basta olhar o nível de escolaridade de grande parte dessas eleitoras para lamentar mais: A maioria sem instrução alguma e com nenhum ou bem pouco nível de escolaridade, ou isso ou votam porque o parceiro ou a família vai votar sem nenhuma base de pesquisa ou fonte segura sobre o candidato.
Quando você escolhe um homem com quase 30 anos de vida pública na política que não apresentou nada significativo e que ainda tem funcionários fantasmas e toda família em cargos públicos, você está me dizendo que vota nele pela honestidade?
Quando você escolhe um candidato misógino e machista sendo mulher você desvalida e nega a si mesma e me diz que seu voto é porque ele defende a mulher e a família?
Quando você vota num ser intolerante e ofensivo com projetos para armar uma população ignorante que nos registros se mata todo dia e acha que isso é a solução para o Brasil, está votando nele por causa de segurança?
Quando você vota num homem que só espalha discurso homofóbico racista e machista, (ele com a boca dele, gravado pela tv aberta em entrevistas) não se justifique defendendo que você vota pelas propostas e projetos porque os mesmos não existem.
Todo ser humano que se instrui, leu história do Brasil, tem um mínimo de bom senso e presencia um discurso desse candidato pode afirmar sem pestanejar que o mesmo é insubstancial, desprovido, ignorante e despreparado.
Uma pessoa que defende o fascismo, e a tortura deveria estar na zona de rejeição absoluta se a maioria dos cidadãos soubessem o que é democracia, o quanto ela é importante para sermos o que somos hoje e como ela foi bravamente conquistada.
Se você preza evolução e melhorias logo seria um passo para trás eleger um ser que não se importa com direitos humanos e usa de principio religioso para se promover mas propaga um discurso de ódio, seria engraçado se não fosse trágico, mas o mais contraditório disso tudo é que o time que defende o ideal daquele que disse "amai ao próximo como a ti mesmo" está votando numa pessoa que claramente disse que "o erro da ditadura foi torturar e não matar", e que só "não estupraria uma mulher porque ela não merecia".
Estamos numa era triste e paradoxal, era em que só para não eleger um lado, elegem um monstro do outro.
E com que argumento?
Encerro meu caso.
Helena Dalillah
Veja mais (Fontes):
https://www.brasil247.com/pt/colunistas/geral/345264/Desvendando-o-%E2%80%9Cmito%E2%80%9D-Bolsonaro-embuste-ou-autenticidade.htm
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/07/pobre-nao-sabe-fazer-nada-disse-bolsonaro-quando-era-vereador-no-rio-nos-anos-1990.shtml
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-que-bolsonaro-fez-pelo-rio-em-27-anos-na-camara-nada-a-nao-ser-colocar-os-filhos-na-politica-por-kiko-nogueira/
http://justificando.cartacapital.com.br/2018/04/14/nem-patriota-nem-honesto-nem-cristao-desmitificando-jair-bolsonaro/
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/09/18/As-mulheres-contra-Bolsonaro.-E-a-dimens%C3%A3o-da-a%C3%A7%C3%A3o-nas-redes
https://www.cartacapital.com.br/diversidade/por-que-algumas-mulheres-votam-em-bolsonaro
https://www.revistaforum.com.br/por-que-voce-nao-deve-votar-em-bolsonaro/
https://medium.com/revista-subjetiva/uma-carta-a-voc%C3%AA-que-quer-votar-no-bolsonaro-8f57a78dcd28
https://www.brasil247.com/pt/247/brasil/283108/Safatle-Bolsonaro-%C3%A9-um-exemplo-cl%C3%A1ssico-de-fascista.htm
Texto necessário e muito significativo.
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